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Como Mudar o Nosso Karma

És daquelas pessoas a quem acontece tudo de errado apesar de dares o teu máximo? Os teus esforços saem furados ou vês situações a repetirem-se ciclicamente na tua vida? Bem vindo ao Karma. Este termo sânscrito, originário das filosofias budista e hindu, é tão famoso no ocidente que até já o chamamos de Carma, em terras lusas. Mas afinal do que se trata?

 

Diz-se que o Karma é como um boomerang: tudo o que vai, volta. Todas as nossas acções irão desencadear reacções com a mesma intensidade, o mesmo peso e medida, mas o troco nem sempre é na mesma moeda. É semelhante à Lei da Causa e Efeito com a particularidade que, segundo as crenças budistas, apesar de algumas consequências, positivas ou negativas, poderem ser sentidas imediatamente, outras podem demorar meses, anos, ou mesmo surtir efeito apenas noutras vidas. Demasiado místico? Vale a pena analisarmos melhor.

 

De acordo com a Lei do Karma, o que determina a qualidade das experiências que iremos vivenciar é a qualidade das nossas intenções. Uma intenção, ou seja, a motivação por detrás de uma acção, pode ser de três tipos: virtuosa, não-virtuosa ou neutra. Uma acção virtuosa é aquela que pretende beneficiar o outro; a não-virtuosa é a que pretende prejudicar o outro; e a neutra, adivinharam, é neutra. O ciclo é este:

Uma intenção gera uma acção que gera uma experiência que gera uma nova intenção, e por aí fora. Portanto uma intenção contaminada gera uma acção contaminada que, por sua vez, no futuro e provavelmente proveniente de onde menos esperamos, gerará uma experiência contaminada. Se não estivermos atentos a este ciclo, esta experiência irá criar uma nova intenção contaminada pelo que entramos num círculo vicioso. Uma vez que a resposta não é instantânea, não são as acções que temos hoje que produzem um resultado imediato. É aqui que nos confundimos e deitamos tudo a perder: se tentamos fazer o correcto e saimos prejudicados, a conclusão que tiramos logo é que "ser certinho é para otários"! Mas na realidade, estamos constantemente a experienciar resultados de acções anteriores. 

 

Uma intenção é como uma semente: se plantarmos uma semente de uma planta venenosa, certamente não podemos esperar que nasça uma planta medicinal. E vice-versa. Além disso, existe um lapso de tempo entre o plantarmos a nossa semente, entre definirmos a nossa intenção e executarmos uma acção concordante, e o vermos florescer e podermos colher os frutos dessa acção. Portanto, quando, apesar dos nossos esforços, experienciamos resultados negativos, estamos apenas a colher aquilo que plantámos no passado, ou seja, estamos condicionados às experiências anteriores (Karma = Condicionamento).

 

E agora perguntas-me: "Olha lá, mas tu pensas que eu sou algum bandido, um larápio? Não ando aí a roubar carteiras a velhotas nem a dar pontapés a cãezinhos. Que mal faço eu a alguém?"

 

As intenções não-virtuosas são a causa única do nosso Karma e têm origem exclusivamente no nosso pensamento. Emoções como a raiva, o ódio, o desejo de vingança, são como venenos deitados no rio da nossa consciência: podemos pensar que quem está mal são os outros mas na verdade estamos tão somente a envenenar-nos a nós próprios. Manchámos a água do nosso rio, água essa que corre continuamente e pode parecer levar e lavar tudo o que arrasta mas, na verdade, o veneno que lá deitámos terá que ir desaguar algum dia, em algum lugar. E ninguém além de nós pode jamais ser culpado de ter contaminado o rio da nossa consciência além de nós mesmos. Ninguém pode entrar na nossa mente além de nós, logo, somos os únicos responsáveis por tudo aquilo que nos acontece na vida. Isto é o Karma.

 

E como podemos afinal mudar o nosso Karma? Todos nós já sentimos raiva, já tivemos sede de vingança. Iremos pagar para sempre?

 

O primeiro passo é tomarmos consciência desta realidade e "apanharmo-nos" no acto sempre que temos um pensamento ou emoção negativa. Quando estamos prontinhos a criticar alguém, por exemplo, o melhor é engolir a língua, respirar fundo contando até 10 (ou 20) e pensarmos para nós mesmos no porquê de estarmos tão afectados com esta situação e se não haverá nesta pessoa um espelho de algo que existe também em nós, algo com que não sabemos ainda lidar. A meditação é o caminho para podermos tomar consciência do carácter dos nossos pensamentos, observando-os de longe como nuvens passageiras, não os criticando mas não nos deixando envolver por eles; apenas obervando-os como expectadores. Reconhecermos que existem em nós estas intenções é o primeiro e mais importante passo para podermos alterá-las.

 

O passo seguinte para mudarmos o nosso Karma é praticando acções virtuosas sempre que possível, aliás, o objectivo seria que antes de qualquer acção pudessemos parar para pensar se estamos a agir de forma a beneficiar todos os seres. Claro que isto nem sempre é exequível, deixemo-lo para os monges budistas! Mas ao praticarmos mais acções virtuosas, desprendidas de interesse pessoal, sinceras e puramente altruístas, sem desejo de reconhecimento, estaremos não só a deixar de acumular a quota de "mau" Karma como a diluir o veneno que existe no nosso rio. Ainda assim, acontece frequentemente que, apesar de agirmos com boas intenções, não somos bem recebidos ou compreendidos; mas não faz mal - mais tarde ou mais cedo iremos colher os frutos da semente que aí deixámos.

 

O Karma é o potencial puro que existe dentro de cada um de nós para agir em benefício dos outros. Imaginem se todos nós agissemos de acordo com a Lei do Karma? Iriamos compreender instantaneamente que de nada adiantava roubar, agredir, criticar, porque estaríamos a inflingir sofrimento em nós próprios. Mas para isso é preciso conquistarmos a nossas intenções e domarmos o rio da nossa consciência. Ao libertarmo-nos das intenções não-virtuosas que teimam em controlar-nos através do nosso Ego, encontraríamos o caminho para a libertação do Karma e do sofrimento. Sabendo que esse poder está dentro de nós, pouco importa se acreditamos no conceito de reencarnação ou no do Céu e Inferno; se todos agissemos de acordo com a Lei do Karma, o Céu seria aqui e agora. E para quê esperar?

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