Como (não) alimentar a doença
Com o passar do tempo, e especialmente desde que tenho um estilo de vida mais ligado à natureza e a tudo o que é natural, tenho vindo a simplificar cada vez mais a minha rotina e a minimizar aquilo de que necessito para estar bem e feliz.
Em tempos não muito longínquos, claro está, eu era o oposto. Hipocondríaca, estava sempre preocupada que me faltaria, com toda a certeza, algum nutriente ou que estaria com uma qualquer maleita por já não ir ao médico há x tempo. Infelizmente, a ida ao médico não me aliviava nada. Saia de lá ainda mais ansiosa, a sentir-me insuficiente, incapaz de me ajudar a mim mesma, cega, surda e muda perante o que acontecia na minha vida, uma vítima das circunstâncias. Felizmente, saia de lá munida com uma extensa lista de exames e uma pilha de medicamentos! Qualquer constipação demorava 4 ou mais semanas a passar, apesar de eu comprar todos os xaropes, pastilhas e sprayzinhos que a televisão me garantia que venceriam a guerra contra o bonequinho do muco. Só que não.
A certa altura, começei a procurar alternativas mais naturais, nomeadamente suplementos, homeopatia e mezinhas caseiras. Tudo muito bem, não fosse a obsessão pela doença ainda estar tão presente, a consumir-me, a manter-me impotente perante a vida.
Mas não há fome que não dê em fartura, como diz o meu ditado favorito. Na minha busca incessante pela saúde perfeita, fui testando e reprovando os vários métodos de medicina mais e menos natural, ocidental e oriental, cara e barata. Dentro de mim surgiu um desejo de encontrar a solução mais minimalista possível para o problema com que me deparasse. Uma toma única capaz de curar constipações, comichões, dores no dedo mindinho ou arranhões; um verdadeiro tudo-em-um!
E encontrei. A famosa frase de Hipócrates "que a comida seja a tua medicina" é melhor traduzida como "que o alimento seja a tua medicina" - e há muitos outros alimentos além da comida!! O que me estava a alimentar, corpo e mente, era o medo, a pré-ocupação, o pré-conceito, de que: ***insira exemplo***
a) fico sempre com gripe x vezes por ano na mesma altura do ano
b) ser vegetariana/vegan tendo tendência para a anemia desde os tempos de carnívora era uma sentença de morte certa
c) o sr doutor, que provavelmente nunca me viu na vida, sabe melhor o que preciso do que eu mesma.
Nonsense.
A dada altura nesta jornada incessante em busca da cura perfeita, ia eu no capítulo da alimentação saudável, quando começei a interessar-me cada vez mais por temas espirituais, de autoconhecimento, de responsabilização pessoal e meditação. Foi neste ponto que encontrei o Santo Graal da saúde e bem-estar, e ainda por cima, não me obrigava a ir a correr comprar nada do que me queriam vender nas revistas ou na televisão - muito pelo contrário. Foi quando me afastei do suposto conhecimento superior que os outros teriam sobre mim e o funcionamento do meu corpo, e começei a dar ouvidos ao que ele me dizia, que tudo mudou. Ainda tenho um longo caminho a percorrer, é certo, estou longe da perfeição e de ter atingido a sabedoria suprema. Mas posso gabar-me/ sentir orgulho na minha evolução/ sentir-me humildemente confiante por saber que está em mim, e em cada um de nós, a solução. Que conseguimos "curar" vários "problemas" no corpo físico, sem utilizar absolutamente nada além da mente. "Hum?!?!" perguntam vocês. Eu sei, eu também não acreditava...
Tomemos como exemplo uma dor de garganta, algo que muitos temos recorrentemente. Reparem se têm tendência a ficar com dor de garganta porque toda a gente na vossa casa ou trabalho está doente e vocês "já sabem" que também vão ficar. Reparem no determinismo e intenção inconsciente que estão a colocar no facto de adoecerem. E se mais ninguém está com dores de garganta?! Fechem os olhos, sentados ou deitados num local tranquilo, e começem a percorrer mentalmente as várias áreas do corpo e a sentir onde estão em tensão. Tomem especial atenção à zona da garganta e relaxem-na. Sintam as cordas vocais a descontrair e como isso altera toda a dinâmica de energia e notem o esforço que estava a ser feito inconscientemente por essa parte do corpo. Reflitam por momentos sobre o que se passa na vossa vida, a nível mental e emocional, no que se refere à vossa comunicação e expressão criativa: sentem que "não têm voz" em determinada matéria? Há alguma situação que vos esteja a "custar engolir"? Estão a comunicar com verdade? O nosso corpo físico comunica connosco através de metáforas surpreendentemente claras! Compreender a origem do que nos aflige, a causa verdadeira do sintoma físico que estamos a experienciar, é a única cura real e não somente um penso rápido, um tapar dos sinais (que, se deixados sem resposta, irão agravar-se até degenerarem em algo mais grave para nos obrigar a parar e lidar com essa situação). Quanto mais grave o sintoma ou doença, maior a necessidade de introspecção e profunda análise ao passado e aos desequilíbrio e bloqueios que precisamos de harmonizar e aceitar.
Aprender a escutar os sinais iniciais do nosso corpo é algo que mais ninguém pode fazer além de nós mesmos. É um desafio que requer a coragem de enfrentar aquilo que temos de mais recalcado dentro da mente, ao invés de recorrer a qualquer comprimido químico que, além de intoxicar o nosso sistema, nos afasta ainda mais da nossa verdade ao abafar os sinais. Não vou dizer que vá ser fácil, mas é um processo necessário. Mexe fundo connosco e pode não acontecer à primeira, ou à segunda ou à terceira. Mas não faz mal, temos a vida toda para nos conhecermos. Boas escutas!