De Que É Que Tens Medo?
A propósito duma música da minha banda favorita, os australianos Tonight Alive, que apelidam o seu género musical de rock consciente, perguntei às pessoas que me seguem no Instagram "De que é que têm medo?". As respostas foram variadas, algumas surpreendentes, todas elas medos legítimos do ser humano.
"De me expor, de aparecer"
"De mudar de vida"
"De ter de lidar com a morte... das pessoas que amo e não só!!! Mexe comigo"
"De estar a perder tempo"
"De não ter saúde"
(...)
Não me considero, de todo, uma autoridade capaz de responder a estes medos, até porque se há coisa que não sou é uma pessoa cheia de certezas. E sempre me fez muita confusão pessoas que afirmam tudo com muita certeza, quando no fundo não sabem minimamente do que falam... No entanto, a única coisa em que me posso basear é na minha experiência.
"Medo da opinião dos outros"
Eu fui a primeira a partilhar o meu medo, que era igual a um dos mencionados acima "O medo de me expor" - um medo tão incapacitante que eu demorei uma década a ter um perfil no Facebook. Fotografias minhas na internet, nem pensar. Até que um dia senti que precisava de o fazer. Por mim, não pelos outros. E postei uma fotografia minha no Instagram, cara meio coberta pelas mãos. E foi um sofrimento. Mas um sofrimento de faltar o ar. Fast forward algum tempo, percebi que ninguém queria saber. Para os outros a minha foto era mais uma qualquer, à qual não dedicavam mais que um segundo do seu tempo - e percebi que não sou especial, o mundo dos outros gira à volta deles e não à minha. E senti um enorme alívio. Até uma sensação de imunidade - posso fazer o que bem me apetecer que ninguém está nem ai!! Freedom!!! E o resto é história... stories, mais precisamente. Quem segue as minhas instastories assiste às palhaçadas diárias que faço, cantando e dançando em frente à câmara, de pijama, na cozinha, despenteada e com olheiras. Liberdade. Os outros não ligam, mas a mim custa-me. Mas cada vez custa menos. E sinto mais liberdade. E depois dizem-me que sou uma exemplo ou uma inspiração. E eu rio-me. Porque eu estou a fazer aquilo APESAR do meu próprio pânico em fazê-lo. Ao que parece, chamam a isso coragem = agir apesar do medo, ou agir com o coração (cuor agire). Não se trata de forçar um show mas sim de deixar a nossa expressão natural surgir sem nos limitarmos pelo medo ou vergonha. E se isso puder servir de incentivo a alguém para se libertar, tanto melhor.
"Medo da mudança"
O Universo é sábio e está constantemente a levar-nos aos locais certos, na hora certa, com as pessoas certas. Só é preciso ter os olhos, ouvidos e especialmente o coração abertos (mais uma vez, cuor agire). Desde que troquei a minha resposta automática de "não" para "sim" a qualquer proposta, qual Jim Carrey no filme Yes Man, que me tenho surpreendido com a velocidade estonteante a que os resultados se manifestam. Em vez de dizer "não" porque não me sinto preparada, tenho vergonha, tenho medo, digo que "sim", e depois chegando lá logo se vê. E até agora tenho-me dado muito bem com isso. E se não me der, é porque o caminho não era aquele, e recalculo a trajetória.
"Medo da morte"
Felizmente, ainda não tive que lidar com a morte de ninguém próximo. Mentira, morreu a minha gata de estimação, que era como uma irmã. Tive-a toda a adolescência, "prenda" de aniversário aos meus 13 anos. Como qualquer adolescente, era parva e não lhe dava a atenção que ela merecia. Ela era má como as cobras com toda a gente menos comigo, deixava-me fazer tudo o que me apetecia, conservando uma paciência de santa. E quando ela morreu, percebi a falta que ela me fazia. Durante uns tempos julguei que ouvia o miar dela pela casa e depois lembrava-me que ela já não estava lá. Deixou um vazio imenso. E jurei que nunca mais queria nenhum animal. Ao fim de 6 meses, o meu coraçãozinho disse-me que tinha muito amor para dar e que não valia a pena guardar mágoas. Ela nunca seria substituisu, mas a vida continua. A impermanência é a lei número 1 da vida. É certinha como a lei da gravidade, ou os impostos. Tudo muda, tudo passa. Tudo o que começa acaba. Procura conforto sabendo que qualquer alma que parta é porque já cumpriu o que vinha fazer nesta experiência terrena e está pronta para embarcar numa nova aventura. Agradece tudo o que aprendeste e fica feliz por ela. No entanto, imagino que seja mais fácil dizê-lo do que passar por isso.
"Medo de estar a perder tempo"
O medo mais contemporâneo e cool, o fear of missing out. A toda a hora, a todo o segundo, somos bombardeados com imagens de pessoas a fazerem coisas que nunca fizemos, em sítios a que nunca fomos, acompanhadas de alguém que nunca iremos conhecer. A toda a hora há mais um evento, mais um curso, mais um livro, mais uma pessoa a conhecer, mais um emprego, mais uma roupa, mais uma viagem, mais , mais, mais... algo mais que provavelmente seria aquela coisinha que iria mudar completamente a nossa vida, se ao menos a conseguíssemos fazer. Se ao menos o dia fosse maior e os recursos ilimitados. Não. Pára. O que tens aqui, agora, neste momento, é tudo o que precisas para ser feliz. (Escrevo isto pensando em mim mesma, também) Estás a respirar, não estás? Tens abrigo, água, comida? Estás porreiro. Há quem não tenha isso. Põe-te a jeito para que o Universo te oriente. Abre os sentidos às oportunidades. E depois espera. O que tiver que ser teu, a ti virá. Confia e agradeçe.
"Medo da doença"
A doença é amiga. Eu sei que neste momento deves estar a querer espetar-me uma estaca porque pareço ter enlouquecido. Mas a doença é uma manifestação física de um desequilíbrio energético, causado por emoções, pensamentos, bloqueios, situações não resolvidas, a que não demos a devida importância anteriormente. Ela começa por dar pequeninos sinais, praticamente imperceptíveis, a que é preciso estar com muita atenção para ouvir. Porque se nos fizermos de cegos-surgos-mudos para estes pequenos alertas, o corpo vai gritar. E quando ele grita, ficas doente. Ele está a dizer-te para parar. Parar e prestar atenção. Está-te a dizer "agora que estás de baixa e não te consegues levantar, que tal aproveitar este tempinho para pormos a conversa em dia?". E quanto mais ignoras (ou colocas pensos rápidos = medicamentos), mais o corpo vai ter que gritar e gritar. E é aí que aparecem aquelas coisas mais chatas. Eu sou uma hipocondríaca em recuperação. Por isso, de medo da doença percebo eu. Mas percebo também como utilizá-la para meu benefício, como uma aliada na busca do auto conhecimento e da expansão da consciência.
"I used to be scared, I used to be like you
I used to care, then I came unglued
Well, it's something we all have to learn to do"
Tonight Alive - What are you so scared of?
Fonte: desconhecida