O Projecto "Eu Sou" ou Só Sei que Nada Sei
Se tiveram a felicidade de me conhecer na Faculdade, poderão lembrar-se de mim pelo meu cabelo em constante mutação entre os vários tons do arco-iris ou até, se prestaram mais atenção, pelo infame projecto "Eu Sou" (para uma das aulas de "Consumismo") em que nos era pedido que costumizássemos uma t-shirt como veículo de auto-descrição e auto-promoção. Pois eu, como rebelde contestatária, decidi que iria escrever no centro a palavra "ODEIO", a marcador preto e em letras garrafais, e preencher frente e costas com uma lista aparentemente infindável dos meus ódios de estimação. Entre essas pérolas de auto-afirmação lá estava "odeio blogs" ("Que raio é que as pessoas têm tanto para escrever e porque quereria eu ler sobre as suas vidinhas insignificantes? Ugh, que ódio!") Escusado será dizer que eu exibia orgulhosamente a minha indumentária cheia de atitude e desdenhava dos parolos que tinham desenhado florinhas e borboletas nas suas camisolas cor-de-rosa (true story). Não, comigo era tudo preto no branco, literalmente.
Esta pequena viagem ao baúzinho das recordações serve para ilustrar muito mais do que a simples ironia de eu estar aqui a escrever-vos, num blog, neste preciso momento. Definirmo-nos pela negativa, do género "não sei o que quero mas sei bem o que não quero" é não só um acto de cobardia como de falta de noção de Si mesmo e da imparável evolução que sofremos ao longo do tempo. Hoje em dia já consigo apreciar todas as nuances de cinzento que existem. Além disso, com essa atitude, ninguém quererá comprar o que estamos a vender - está provado (cientificamente, para os mais cépticos) que tudo no universo é energia e que não podemos esperar atrair nada de positivo se tudo o que fazemos é focarmo-nos no negativo.
Se me pedissem hoje que fizesse uma nova t-shirt que ilustrasse quem "Eu Sou" entregar-lhes-ia o tecido em branco. Não por falta de imaginação ou por ser a saída mais fácil. Porque sou (somos) o Tudo e o Nada. Somos as árvores, o mar e o vento. Como poderia capturar tudo isso num pedaço de material? Desapegarmo-nos da ideia do que somos e do que não somos é um brutal mas necessário caminho para o fim do sofrimento. O que o torna mais fácil é optarmos conscientemente por vibrar numa energia de amor e não de medo. Não podemos mudar o mundo mas podemos mudar-nos a nós mesmos e isso muda tudo porque temos o mundo dentro de nós.
PS: As minhas sinceras desculpas aos parolos das t-shirts com borboletas, claramente estavam mais despertos para a realidade do que eu.